quinta-feira, outubro 22, 2009

Perdão e Punição

Algumas pessoas sentem-se incomodadas com a ideia de um Deus que possa punir atitudes erradas, outras por sua vez sentem incomodo pelo facto de Deus poder perdoar determinadas atitudes erradas. Enquanto umas acham inconcebível um pedófilo arrependido ser perdoado, como eu já ouvi, outros acham inconcebível o mesmo ser mandado para um sofrimento eterno.

Julgo que a primeira ideia que devemos ter patente para uma visão equilibrada do Perdão e da Punição Divina, ou do Amor e da Justiça é que a moralidade não é relativa a culturas ou indivíduos. Não podemos determinar a veracidade da Bíblia pela os nossos sentimentos, que diga-se de passagem, são muito voláteis! Partindo do principio que a moralidade é relativa não há lugar a nenhum juizo de valor, nada nos resta senão uma vida selvagem baseada no prazer imediato não olhando a meios para atingir fins. Do Homem espera-se um pouco mais.

Vale a pena ainda dizer que quando partilhamos com outra pessoa um juízo moral, por exemplo, é injusto Deus mandar um ladrão para o inferno, ou melhor, permitir que ele vá para lá parar, estamos a partir do pressuposto que a pessoa com a qual falamos também tem a mesma sensibilidade moral, como tal acreditamos numa moral universal, se não fosse esse o caso nunca partilharíamos um juízo moral.

Visto que o carácter de Deus não é determinado pelos sentimentos humanos, devemos mais submeter que recalcitrar. Deve-se este texto então a tentar provar que a visão de um Deus de perdão e punição é o ideal para a humanidade.

Em primeiro lugar, aqueles que crêem que no final haverá recta justiça, são livres do sentimento de vingança quando a justiça não é eficaz aqui. Depois a punição é a única forma de resguardar um ideal, punido aquilo que lhe for oposto. O amor de facto tem de odiar aquilo que puder ser nocivo para ele mesmo, por isso tem de haver um lugar onde o mal ficará para sempre, onde não pode mais atormentar o bem.

A alternativa à punição é o perdão. E que bela alternativa! Perdão para todos, porque todos estão debaixo de punição, todos falharam o alvo drasticamente, podes pensar que não, mas como disse de outra forma à pouco, as regras foram ditadas por Deus, rebelar-mo-nos contra as regras de Deus tendo como base um argumento moral, é cortar o galho onde estamos assentados, porque a moral vem de Deus, o que acontece é que nós a temos meia distorcida.

A punição é para quem quer. Quem quiser perdão, há muito para dar ainda. Quem não quiser perdão, infelizmente não terá outra alternativa à punição, não que Deus a queira dar, mas porque Deus nada pode fazer contra a tua vontade.


NOTA: Este texto não pretende ser de maneira alguma taxativo, apenas serve para dar algumas nuances.

6 comentários:

Jorge Oliveira disse...

Gostei.
Importa relembrar e considerar a bondade e a severidade de Deus.

natenine disse...

É verdade, tal como o perdão não faz sentido se não pensarmos na punição, a bondade de Deus em nosso favor também se torna vazia se não sabemos o quão severo o nosso pecado tornou Deus.
Apesar de tudo acredito que toda a ira e severidade de Deus já foram exercidas sobre Jesus, e só aqueles que não quiserem Jesus como expiatório para essa ira é que se voluntariam a sofrê-la.

The Clairvoyant disse...

Olá...Antes de mais nada sou ateu há muito tempo já. Na verdade, desde quando me considero um ser humano, nunca acreditei muito nesse conto de fadas. De que fomos criados por um ser supremo, a quem devemos amá-lo e respeitá-lo para que possamos, após nossa morte, vivermos todos juntos em um lugar livre de todos males que conhecemos em nossa vida terrena.

É muito vago essa teoria. Durante mais de 2 mil anos somos forçados a apenas crer nesta história, e nunca questioná-la. Os que foram contra a igreja e suas crendices foram torturados e mortos; em um ato, que pelo meu ponto de vista, nada divino!

Eu que não creio, nunca peço nada a Ele, não agradeço e nem o condeno, vivo a minha vida maravilhosamente bem. Um ótimo emprego, amizades, amores...enfim, não preciso de um Deus, eu consigo o que eu quero por mim só. O que eu não consigo, continuo buscando, acreditando em mim, apenas em mim, de que conseguirei alcançar este objetivo.

Quanto ao diabo; não me preocupo com ele, não vivo com medo de ser enviado ao um lugar onde irei ser torturado por toda eternidade, um lugar onde o Deus bondoso criou para que fossem enviadas as pessoas que não o seguisse.
Mas peraí, e aquela história de livre-arbítrio?! Por que deveria ser condenado pela escolha que eu fiz, se Ele me deu essa oportunidade de escolha?!

E outra, por que deveria haver algo depois da morte? Simplesmente pelo medo que temos de que a morte é o fim?!

Sei que sou um estranho no ninho, mas é pq gosto de dialogar/questionar com outras pessoas, de iguais ou diferentes pontos de vista. Um abraço a todos, e " Carpe Diem".

natenine disse...

Boas Clairvoyant, antes de mais quero dizer que aqui não há asfixia de opinião, todas são bem vindas e ninguém perde nada em dialogar.
Porém desejo clarificar algumas ideias, as quais me parecem que não tem o devido esclarecimento.

Ninguém foi forçado a crer "nessa história" por causa da história em si. O Cristianismo nunca incentivou uma "jihad" (guerra santa) mas sempre disse para "dar a outra face. Como tal atrocidades cometidas em nome da religião, não foram feitas pelo Cristianismo, mas exactamente por essas pessoas não serem verdadeiramente Cristãs, se o fossem não o fariam.
Ainda neste ponto deve ser dito que muito mais gente tem sofrido por ser Cristão do que por não o ser, aliás ainda hoje em países islâmicos e alguns países comunistas é proibido ser Cristão. Para não falar de todo o sofrimento que foi feito em prol do ateísmo, Rússia comunista, Alemanha nazi, entre outros. De facto nem se compara.

Tal como você não tenho medo nem do diabo, nem da morte, nem de Deus (temor é algo diferente).

O facto de termos muita coisa só é factor para lhe agradecermos. Porque no fundo estaremos a trocar a criação pelo Criador se não lhe agradecermos as benesses. Mas de facto nós precisamos de Deus, não para ele nos dar aquilo que temos falta mas porque esse é o nosso propósito de existência. Fomos feitos para Ele e só descansaremos quando nos encontrarmos com Ele de novo. Isto digo-o por experiência própria.

A respeito do inferno, Deus não o criou para pessoas, diz a Bíblia que Deus criou o inferno para o próprio Diabo e seus anjos. Esse lugar não é para nós, a questão é que se nós não quisermos viver para Deus não há outra alternativa, vivemos para nós mesmos. E o inferno é o sítio onde não se pode viver para outro, é mau porque Deus não está lá. Tudo é uma escolha, Deus não tem prazer nenhum em que não o queiram, antes está triste com isso.
Céu ou inferno é uma escolha entre viver para Deus ou para nós mesmos, é apenas a extensão do que fizemos na terra. Você quer reclamar por ter poder de decisão? Se não o tivesse não poderia reclamar de o ter.

Meu caro, não note no meu "tom" de escrita um tom agressivo, antes pelo contrário é meigo e simpático. Um abraço e obrigado pela visita.

The Clairvoyant disse...

Olá...
Não noto em sua escrita um tom agressivo; pelo contrário, você sabe escrever, argumentar e dialogar em alto nível como poucos.

Compreendi o que você disse,mas claro, dircordo em alguns pontos...rs!

Na minha opinião, a religião tem lá seu sentido. Foi criada para colocar ordem na Terra. È igual a comunidade onde vivemos: há coisas que podem e que não podem ser feitas. Se você as descumpre, será punido ( prisão, etc... ).

Mas muitas pessoas utilizam deste propósito, para se aproveitar dos demais semelhantes, usando o seu DEUS como arma de chantagem, opressão, enriquecimento...denegrindo o que era pra ser "o plano perfeito", como você mesmo cita em relação a guerra santa, onde "falsos cristãos" utilizam deste artifício para espalhar o terror no planeta até os dias de hoje.

O que eu gostaria de saber, é por que Deus não interfere mais?! Por que deixar utilizar do seu nome para promover essas atrocidades?!
Você deve concordar comigo que o seu Deus anda um tanto quanto ausente ultimamente, diria nos últimos 2.009 anos...

Acho que não precisa acreditar em Deus para se poder viver corretamente. A ética por si só já é o bastante.

Me desculpe, sou irônico em muitas das vezes. Se caso não quiser mais que eu lhe incomode, é só avisar que eu respeitarei sua opinião.

natenine disse...

Clairvoyant, eu amo o debate (claro sem maldade), e a sua opinião é bem vinda, e será publicada sempre.

De facto tenho de concordar que muitos usam a religião para seu próprio beneficio, não lhes importando a vida humana, e diga-se, nem Deus. Esses terão merecida punição se não se arrependerem. Sobre o tópico da religião veja este meu texto, se tiver tempo e vagar: http://natenine.blogspot.com/2009/05/problema-de-ligacao.html

Existem duas coisas que disse, as quais eu não vejo bem como você, porém são pensamentos sensatos e compreensíveis. Permita-me fazer brilhar uma nova luz sobre esses temas.

Porque é que Deus não interfere? De facto para nós seria sensato que o Grande Juiz fizesse justiça imediata. Porém a Bíblia diz que um dos atributos de Deus é que ele é tardio em se zangar (irar), vou mostrar-lhe: Que o vosso remorso vos leve a dilacerar-vos o coração e não a rasgar a roupa. Convertam-se ao Senhor vosso Deus, porque é compassivo e misericordioso. Não é facilmente que se acende a sua ira; está cheio de mansidão e ancioso por não ter que castigar.
Deus não quer ter de castigar de imediato, ele de facto quer dar uma hipótese para que as pessoas mudem. Ele de facto é muito, muito benigno... De facto ele não está ausente, antes presente, presente em amor. Podemos ficar zangados com Deus por ele não aplicar logo a sua Justiça, mas deixe-me que lhe diga, se Deus o fizesse eu e você já estaríamos mortos...

Alguém pode viver correctamente sem acreditar em Deus? Sim! De facto até há ateus que vivem muito mais correctamente que muitos crentes! Mas a pergunta que deve ser feita não é essa... A pergunta que deve ser feita é: Alguém pode saber o que é correcto se Deus não existisse? A resposta é que expressões como "correcto" ou "errado", "bem" ou "mal", não fazem sentido de uma perspectiva ateísta. Deixe-me tentar explicar porquê:

O conhecido escritor C.S. Lewis (escritor das Crónicas de Narnya), acabou por se converter ao Cristianismo, deixando o seu ateísmo de uma maneira interessante, vou deixar aqui o seu relato:
contra Deus era o de que o universo parecia injusto e cruel. No entanto, de onde eu tirara essa idéia de justo e injusto? Um homem não diz que uma linha é torta se não souber o que é uma linha reta. Com o que eu comparava o universo quando o chamava de injusto? Se o espetáculo inteiro era ruim do começo
ao fim, como é que eu, fazendo parte dele, podia ter uma reação assim tão violenta? Um homem sente o corpo molhado quando entra na água porque não é um animal aquático; um peixe não se sente assim


Se de facto Deus não existe, onde é que fomos buscar a ideia de mal ou de bem? Se ela vem de uma forma natural ela é apenas como os átomos se agregaram na sua cabeça por forma a pensar que uma coisa é errada e outra certa e isso não tem valor nenhum do ponto de vista moral. Nunca poderíamos mandar ninguém para a prisão, porque a moral de um é diferente para o outro. Se Deus não existe a moral não é universal e de facto você não pode dizer a ninguém que está errado, porque afinal é tudo átomos na cabeça...

Por outro lado nos temos a sensação de que existe moral, a meu ver isto aponta para um Legislador Moral que nos colocou em nós seres humanos o senso de dever, de facto o mal aponta-me para a existência de Deus e não para sua inexistência.

Um abraço e até uma próxima.