sábado, junho 13, 2009

O Homem Incógnito (o primeiro)

"Tinha todos os argumentos para mostrar que a religião é vã, tinha inúmeros exemplos de coisas bizarras feitas ao longo da história em nome de Deus, que atrapalhariam qualquer fervoroso crente. Eu sabia contradições de alguns textos religiosos especialmente da Bíblia, sabia inclusivamente algumas delas de cor, sabia incomodar, todo o tipo de religioso. Tinha uma série de argumentos devidamente fundamentados com base científica, histórica e filosófica para refutar qualquer afirmação que apontasse para a existência de um Deus. Eu considerava-me um verdadeiro ateu. No fundo de tanto orgulho, se realmente existisse algum deus eu nunca o conheceria. Era verdade que eu chegara a isso de forma racional, mas no fundo eu antes também o era de forma menos racional. Tornei-me ateu quando o meu pai morreu, eu julgava que Deus ouviria as nossas orações, mas aquela para o meu pai não morrer... essa Ele não ouviu. A partir desse dia, a minha jornada baseou-se em refutar toda e qualquer ideia de Deus, partindo do pressuposto: Deus não existe. Vez por outra eu sentia-me incomodado, porque não havia analisado a fundo a questão de Deus, afinal eu não conhecia nem a décima parte da religião do meu país, quanto mais de todas as outras. Eu não conhecia em pleno a natureza do universo e por outro lado a ciência não se ocupa de provar inexistências. Porém em meio a Russeles e a Nietzsches fui aniquilando a voz da minha sinceridade, voz essa que começou a falar comigo no dia da minha primeira oração em favor do meu pai - Se todos rezassem ninguém morreria? - ao que eu anos mais tarde respondi: Exacto! Deus é Cruel. Naqueles tempos eu abominava toda e qualquer religião, tudo o que eu queria era aniquilar a ideia de Deus, da mente das pessoas, e no fundo... também da minha.
Ingressei numa universidade de renome e estudei biologia, queria ter descanso a respeito das questões da origem da vida e do universo, afinal isto não poderia ser criado por Deus, caso contrário nunca haveria mal. No último ano da faculdade descobri que o meu professor preferido era Deísta, fiquei estarrecido! Como é que aquele ser inteligente que tanto me ensinou poderia acreditar que o mundo era como um peão que ainda gira devido a um impulso primeiro? "Então mas o conhecimento não leva ao ateísmo?! Isso de crer em Deus não é coisa de gente retardada?!" Eu questionava-me... Eu não poderia estar errado, eu havia influenciado inúmeras pessoas, encavacado evangelistas de rua com questões difíceis, e dado a minha "verdade" aos agnósticos que conheci. Para que o meu percurso de ateu continuasse decidi que aquele senhor deveria ter uma falha, ou medo de morrer, mais tarde percebi que não fazia muito sentido dizer que alguém se tornou Deísta porque tinha medo da morte, mas assim eu prossegui até aos meus 34 anos de idade.
Com 33 anos eu era escritor regular para uma publicação de cariz científico, orador conceituado e mestrado em Biologia Molecular. Determinado dia um aluno meu perguntou-me como é que a vida surgiu de matéria inorgânica. As perguntas que me perturbavam não eram o "como?", mas o "porquê?", porém sem dúvida aquela pergunta incomodou-me naquela hora. Essa questão não me incomodava há muito, eu estava imune. A juntar a essa, naquela hora vieram todas as outras, a respeito da moral, universo, de algumas profecias Bíblicas. Eu havia estudado e sabia refutar todas as ideias que tinha na mente, mas naquela hora eu apercebi-me que também eu precisava de fé para acreditar no meu conjunto de crenças."

1 comentário:

Marcos Sabino disse...

põe as restantes partes :)